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O Trabalho Invisível da Mulher Rural

Um Olhar Sobre a Exaustão e as Doenças Ocupacionais

Catarine Mulinari

5 minutos

21 de mar. de 2024

#prevbox #direito #previdenciario

Neste texto mostraremos a realidade do trabalho da mulher no campo, destacando sua invisibilidade, a natureza braçal e pesada de suas tarefas, bem como as doenças ocupacionais decorrentes desse labor extenuante.

Além disso, exploraremos o trabalho invisível realizado por essas mulheres, que após um dia inteiro na lavoura, ainda enfrentam os afazeres domésticos e os cuidados com os filhos. Por meio de um debate com base na legislação e levantamentos científicos, este estudo destacará a importância de reconhecer e valorizar o papel da mulher rural, assim como implementar medidas para proteger sua saúde física e mental.

O trabalho da mulher no campo é frequentemente invisibilizado e subestimado, apesar de sua contribuição fundamental para a agricultura e o sustento das famílias rurais. Essas mulheres enfrentam uma carga de trabalho pesada e extenuante, envolvendo atividades como o plantio, colheita, cuidado com os animais e manutenção das propriedades. Além disso, muitas delas enfrentam o desafio adicional de conciliar essas responsabilidades com os afazeres domésticos e os cuidados com os filhos.

Hoje no total, 71 mil mulheres compõem a população economicamente ativa (PEA) do meio rural, o que corresponde a 61,74% do total de mulheres com idade acima de 10 anos residentes no campo.

De acordo com dados do IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, com relação à idade das mulheres da área rural, 46,27% delas possuem menos de 30 anos, da faixa de 31 a 49 anos, são 33,58%, e com 50 anos ou mais são 20,15%.[1]

Quanto aos estabelecimentos rurais onde constam mulheres como responsáveis, este número chega a 147 mil, ou seja, 19% conforme levantamento do IBGE/Embrapa:

  


Sabe-se que além do trabalho braçal na lavoura e pecuária, a mulher possui dupla ou até tripla jornada visto que desenvolve o trabalho considerado de reprodução, no âmbito do lar.

Quanto a esse trabalho muitas vezes invisível, o Laboratório Think Olga promoveu uma análise quanto aos levantamentos do IBGE/PNAD em relação ao que chamamos de “economia do cuidado”.

Segundo o Laboratório Think Olga, a economia é um conjunto de regras invisíveis que organiza a forma como vivemos:

“O trabalho de cuidado envolve muitas horas e tempo dedicado ao cuidado com a casa e com pessoas: dar banho e fazer comida, faxinar a casa, comprar os alimentos que serão consumidos, cuidar das roupas (lavar, estender e guardar), prevenir doenças com boa alimentação e higiene em casa e remediar quando alguém fica ou está doente, fazer café da manhã, almoço, lanches e jantar para os filhos, educar e segue por horas a fio.

A economia do cuidado é essencial para a humanidade. Todos nós precisamos de cuidados para existir. E, se hoje você é uma pessoa adulta, é porque alguém já desempenhou horas de trabalho de cuidado com alimentação, vacina, remédios, limpeza e higiene, educação, entre diversas outras funções por horas. E a sociedade, os empregadores que contratam pessoas (veja que óbvio), a gestão pública, as universidades, todas as demais esferas se aproveitam desse trabalho que é gratuito ou mal-remunerado (quando terceirizado).”

Diante da realidade observamos que a mulher gasta 61 horas por semana em trabalhos não remunerados no Brasil, sendo dividido da seguinte forma:



Esse esforço se remunerado corresponderia a 11% do PIB do Brasil, sendo mais que o dobro da produção de toda área agropecuária



No âmbito mundial esse trabalho não pago corresponderia a 10,8 trilhões de dólares, 24 vezes maior que a economia gerada pelo Vale do Silício.

Esse estudo produzido pelo Laboratório Think Olga finaliza demonstrando que essa estrutura econômica tem conseqüências, principalmente na saúde mental dessas mulheres:

O impacto na vida das mulheres é imenso: amplia as desigualdades de renda, precariza as condições de vida em todos os âmbitos e ainda acarreta estresse, estafa, depressão, entre outros problemas para a saúde.

São as mulheres mães aquelas que assumem a obrigação de distrair as crianças, cuidar da rotina, e ainda para as que trabalham, cumprir as horas trabalhadas. O distanciamento social, principal medida de prevenção contra o coronavírus, traz consigo a sobrecarga, a solidão e a exaustão para mulheres mães.

Tudo isso gera muito impacto no caminho profissional e no acesso a renda desta mulher. Ocupada com o “invisível’, ela fica privada do tempo e dos recursos necessários para conquistar sua autonomia financeira, permanecendo presa em um ciclo de exploração.

Só no Brasil, 7 em cada 10 pessoas diagnosticadas com depressão e ansiedade eram mulheres.

Esses sintomas estão ligados diretamente a insatisfação dessas mulheres e quando questionadas sobre qual maior peso nessa insatisfação, vemos que o cuidado não remunerado ocupa o topo da lista:


Este levantamento demonstra que uma mulher sobrecarregada com o cuidado tem menos tempo ou condições para se dedicar ao trabalho remunerado. Uma mulher sem renda digna tem precarizados seu meio de vida e suas condições de cuidar.Essa realidade se reflete no grau de instrução dessas mulheres. Um relatório técnico “Desigualdades de gênero dos ocupados com atividades ligadas à agricultura no RS”, divulgado pelo Departamento de Economia e Estatística (DEE), vinculado à Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão (SPGG) no Rio Grande do Sul demonstra que na faixa etária acima dos 75 anos, 9,6% das mulheres tinham menos de um ano de instrução e 90,4% contavam com Ensino Fundamental incompleto enquanto entre os homens da mesma idade 78,7% tinham Ensino Fundamental incompleto, 3,6% tinham menos de um ano de instrução, 12,5% tinham Ensino Fundamental completo e 5,2% tinham Ensino Superior completo.Na faixa etária de 25 a 34 anos, por exemplo, 7,3% das mulheres tinham Ensino Superior completo e 34,6% contavam com Ensino Médio completo, enquanto entre os homens os percentuais eram de 10,4% e 31,1%, respectivamente.O adoecimento psíquico é também o resultado dessa conta que não fecha e pressiona de maneira sobre humana a saúde mental das mulheres.Além das doenças ocasionadas pela pressão da sociedade para que mulheres exerçam atividades não remuneradas voltadas para o cuidado, o trabalho extenuante no campo expõe as mulheres a um maior risco de desenvolverem doenças ocupacionais. Entre as mais comuns estão às lesões musculoesqueléticas, decorrentes do esforço repetitivo e da falta de ergonomia nas atividades agrícolas. Além disso, a exposição a produtos químicos, como pesticidas e fertilizantes, pode causar intoxicações agudas e crônicas, afetando a saúde das trabalhadoras e de suas famílias.Esta concausa pode ser verificada conforme o art. 337, §3º do Decreto 3.048/99:Art. 337. O acidente do trabalho será caracterizado tecnicamente pela perícia médica do INSS, mediante a identificação do nexo entre o trabalho e o agravo.(…)3º Considera-se estabelecido o nexo entre o trabalho e o agravo quando se verificar nexo técnico epidemiológico entre a atividade da empresa e a entidade mórbida motivadora da incapacidade, elencada na Classificação Internacional de Doenças – CID em conformidade com o disposto na Lista C do Anexo II deste Regulamento. (Grifos próprios)

A Lista C do Anexo II do Decreto 3.048/99 promove uma correlação com base em estudos científicos, entre o CNAE da função e o CID suportado, o que torna esse reconhecimento presumido.O trabalho da mulher no campo é marcado por sua invisibilidade, pela carga física e mental intensa e pelas doenças psíquicas e ocupacionais decorrentes dessa atividade. Reconhecer e valorizar o papel das mulheres rurais é fundamental para promover a igualdade de gênero e garantir condições de trabalho dignas e seguras. Medidas como o acesso a equipamentos adequados, a capacitação em práticas agrícolas sustentáveis, utilização do PROTOCOLO DE JULGAMENTO SOB PERSPECTIVA DE GÊNERO e o apoio às atividades domésticas podem contribuir para melhorar a qualidade de vida e o bem-estar das trabalhadoras rurais e de suas famílias.

Fontes de pesquisa:

[1] Sistema CNA / SENAR / Instituto CNA.

[2] https://lab.thinkolga.com/economia-do-cuidado/

[3] https://estado.rs.gov.br/estudo-do-dee-spgg-aponta-desigualdade-de-genero-nas-atividades-ligadas-ao-campo-no-rs

[4] https://cnabrasil.org.br/noticias/com-134-mil-mulheres-no-campo-presenca-feminina-se-destaca-no-agro-em-ms

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